Ageu 1:3–4
O povo dizia que não era o tempo de edificar a casa do Senhor. Entretanto, parece que sempre era tempo de trabalhar em suas próprias casas.
O que é que se passava verdadeiramente em seus corações? Pode o mesmo nos acontecer hoje? É isso que vamos considerar.
Revelado o estado do coração
Em resposta ao que os israelitas pensavam, o Senhor agora fala ao seu povo pelo profeta Ageu. Essa resposta é na verdade uma pergunta. Em poucas palavras, essa questão vai diretamente ao ponto e manifesta na hora o real estado das coisas.
“Veio, pois, a palavra do SENHOR, por intermédio do profeta Ageu, dizendo: Porventura é para vós tempo de habitardes nas vossas casas forradas, enquanto esta casa fica deserta?” (Ageu 1:3-4)
Como lemos em Hebreus 4:12, a palavra de Deus “é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração.” “… todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele com quem temos de tratar.” (Hebreus 4:13). A palavra de Deus é como um espelho que mostra realmente aquilo que somos (Tiago 1:22-24). Se tomarmos isso no coração, e colocarmos em prática, haverá a bênção de Deus sobre o que fazemos, como também encontramos em Tiago 1:25: “… este tal será bem-aventurado no seu feito.”
Assim, essa única pergunta da parte de Deus põe o dedo diretamente no verdadeiro problema e manifesta o estado dos corações. Se não era o tempo de edificar a casa do Senhor, seria, porventura, esse o tempo de cada um ficar em casa?
Examinemos a situação mais de perto.
- Primeiro, eles tinham casas, mas a casa do Senhor estava devastada. Depois de todos esses anos, muito trabalho de preparação havia sido feito, e talvez até concluído, e provavelmente havia muito material pronto. Esta suposição se baseia no fato de que o trabalho foi terminado em somente quatro anos depois de retomarem a obra, enquanto que foram necessários sete anos para Salomão, e isso em circunstâncias bem mais favoráveis. As fundações haviam sido lançadas, mas a casa ainda não tinha sido edificada!
- Segundo, eles tinham casas forradas, mas a casa do Senhor estava devastada. Eles tiveram muito tempo e energia para terminar suas casas com gosto e ficar confortáveis. Mas não foram capazes de encontrar tempo e energia para a casa do Senhor! Não era o tempo, a seus olhos, devido às circunstâncias e, o que não ousaram dizer, devido ao seu conforto.
- Terceiro, eles habitavam em suas belas casas, mas a casa do Senhor ainda estava devastada. Por que ir construir a casa do Senhor se podiam gozar do conforto de suas casas e das alegrias que encontravam ali, com a família e os amigos?
É nesse contexto que o Senhor pergunta por meio de seu profeta: “Dizeis que não é tempo de edificar, mas é tempo de habitardes confortavelmente em vossas belas casas, enquanto minha casa fica em ruínas?”
Só o fato de fazer essa pergunta deve ter tocado seus corações e lhes feito refletir. Como eles podiam habitar confortavelmente em suas casas enquanto que havia tanto trabalho a fazer na casa do Senhor? Era justo dizer “não é o tempo de edificar” e, no momento seguinte, dedicar tempo e recursos em suas próprias casas?
O povo tinha se desleixado paulatinamente, passando de um trabalho ativo na reconstrução da casa do Senhor para a busca de seu conforto pessoal. Aquilo que eles não ousavam dizer, o Senhor o manifestou em clara luz. Seus corações não estavam mais nas coisas de Deus, mas ocupados com o conforto e com o bem-estar que podiam encontrar.
Considerando esses breves pontos à luz da palavra de Deus, como está nosso próprio coração em relação ao serviço de Deus?
- Somos povo “… zeloso de boas obras”? (Tito 2:14)
- Andamos nas “boas obras, as quais Deus preparou [de antemão]”? (Efésios 2:10)
Ou também nós precisamos confessar que há muitas outras coisas que ocupam nosso tempo e nossa energia? De um lado, queremos servir ao Senhor porque o amamos, e sabemos que há uma grande recompensa por isso — em especial, ouvir o Senhor nos dizer: “Bem está, servo bom e fiel.” (Mateus 25:21). Mas quando vem o tempo de agir, aí, bem, é uma outra história. Subitamente agora há muitas coisinhas pequenas que vêm nos perturbar as boas intenções, e pode ser que, calculando o sacrifício pessoal a fazer, ele pareça um pouco grande demais para nós.
Por que é assim?
Primeiramente porque temos um inimigo que não quer que a obra de Deus seja feita. E infelizmente esse inimigo tem um aliado em nós: a carne. O presente século oferece tudo que satisfaz o homem natural de modo a afastar o seu coração das coisas de Deus. Lembramo-nos da triste notícia que Paulo escreveu a Timóteo em 2 Timóteo 4:10 “Demas me desamparou, amando o presente século”. Nós não lemos que ele voltou a uma vida de pecado; pode ser que tenha continuado a viver uma vida cristã. Mas o lugar que o presente século tomou em seu coração tornou muito difícil continuar a seguir Paulo. Ele desejou um caminho mais fácil.
Aproveito esta ocasião para mais uma pequena reflexão sobre o abandono de Paulo por Demas. Evidentemente, isso significa que ele o deixou. Mas não temos, por analogia, uma imagem interessante daqueles que, ainda hoje, abandonam os ensinamentos de Paulo porque, sem surpresa nenhuma, o presente século se opõe aos seus ensinos? O homem natural sempre se opôs à palavra de Deus. Mantemos o que satisfaz a carne em sua religião e filosofias, e substituímos o resto por ensinamentos do homem. Que guardemos, também, “o bom depósito pelo Espírito Santo que habita em nós.” (2 Timóteo 1:14).
Eis o que nosso inimigo está fazendo. Ele quer tirar o nosso coração das coisas de Deus, entre outras formas, seduzindo-o para as atrações que o presente século oferece. Há de tudo para satisfazer todos os gostos. É por isso que devemos nos lembrar constantemente das sérias palavras do apóstolo João: “Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele.” (1 João 2:15).
Em segundo lugar, nossa prontidão em servir a Deus pode esfriar por fazermos a conta errado. Não temos mais os olhos da fé que nos fizeram ver a recompensa que o Senhor deseja nos dar enquanto permanecemos em sua presença. Antes, nossos olhos estão no preço que temos de pagar agora: tempo, fadiga, dificuldades, incompreensão das pessoas etc. Olhemos para o exemplo perfeito de nosso Senhor Jesus Cristo, “o qual, pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta” (Hebreus 12:2). E depois de todos seus sofrimentos, todo seu trabalho, qual é a porção de nosso Senhor? Ele “assentou-se à destra do trono de Deus.”
Que grande encorajamento! Se há um preço a pagar, há também “um peso eterno de glória” (2 Coríntios 4:17) para quem suporta esta “leve e momentânea tribulação”.
Em resumo
Essa primeira pergunta que o Senhor fez ao seu povo trouxe à luz aquilo que estava realmente em seus corações. Eles paulatinamente se desleixaram e se entregaram aos confortos enquanto a casa do Senhor estava devastada.
Nossos corações não são melhores do que os deles, e o perigo é o mesmo para nós hoje. O Senhor deseja atrair nossa atenção para que não caiamos na mesma armadilha de ficarmos em casa, confortavelmente, enquanto ainda há trabalho a fazer na casa de Deus. Ele nos chama a edificar e a vigiar, para que não durmamos. E para nos encorajar, coloca diante de nós a sua vinda tão próxima, e a recompensa que está com ele.